Ensaio 1 O ABORTO


Como primeiro tema, vou descrever sobre esta questão que está quase definindo as eleições presidenciais no país.


Acho este assunto de cunho íntimo e eu, por exemplo, não faria um aborto porque tenho convicções que me impedem, mas não posso condenar uma amiga que por ventura viesse a fazer um. Mas no fundo nenhuma mãe gostaria de fazer um aborto, as condições as desestruturam ao ponto de tomarem esta medida drástica e cruel, tanto para ela quanto para o feto. Uma mãe que aborta carrega consigo este fato para o resto de sua vida.


Esta situação nos deve levar a reflexão, meditar sobre o assunto. Guardadas as medidas proporções, qual a diferença de se tirar uma vida ainda no feto ou deixar morrer a míngua uma criança? A violência é tanta que não se restringe apenas em interromper uma vida no ventre, ela também acontece do lado de fora da barriga, quando a irresponsabilidade de mães e pais as agride física e moralmente, quando o resultado de uma família desequilibrada resulta em adolescentes e adultos problemáticos e violentos, que irão tirar a vida de outras pessoas.


Não temos o direito de interromper uma vida, temos o dever de proporcionar vidas melhores.

Os grandes movimentos religiosos do país são absolutamente contra o aborto, mas o que eles fazem para amparar quando uma mulher casada tem um filho fora do casamento?
- Eles CONDENAM a traição.


O que estes movimentos que representam DEUS fazem para ajudar meninas grávidas muitas vezes estupradas pelos seus parentes? Onde estão os grandes interlocutores de Deus que não estão nos hospitais amparando as famílias quando uma mãe morre de hemorragia devido a um aborto?


São perguntas que eu sempre me faço. A impressão que eu tenho é que estes movimentos estão mais preocupados em manter o número de fiéis ativos e pagantes, do que tentar resolver o problema com amor e carinho às vítimas desta decisão.

Atitude essa que não é o governo e nem religião ou credo nenhum que irá mudar esta decisão. Porque quando uma mulher decide tirar a vida de um filho, eu tenho a impressão que ela comete primeiro o aborto de suas crenças, de sua esperança, aborta muitas vezes o amor que já sente pelo filho antes mesmo dele nascer. Ninguém para pra pensar no processo que antecede a decisão, todo mundo só quer saber do fato em si.


Quando um homem se casa com uma mulher na igreja católica, o padre pede para os dois repetirem o juramento de que serão fieis eternamente e que tenham filhos e que os filhos sejam criados dentro do catolicismo. Acredito que na igreja evangélica também seja parecido... É muito forte o compromisso que pregam os líderes religiosos para fortalecer os grupos. Outro dia eu ouvi de uma deficiente física que, ao procurar um padre para se casar (no Rio de Janeiro), o padre não quis realizar o casamento por ela ser uma “cadeirante”. Disse a uma mulher cheia de esperanças e apaixonada pelo marido que ela não poderia se casar na igreja porque e ela não iria “procriar”. Vejam que absurdo! Eu só posso crer que o interesse que alguns grupos religiosos só estão interessados no número de fies e na multiplicação deles, entenda-se pagantes de dízimo ou esmola ou alguma contribuição financeira.


Outra situação das quais eles também são contra é a união homossexual... Eles não querem saber do amor que une as pessoas, nem mesmo dos heterossexuais, eles são contra a união homossexual porque desta união não proverão filhos biológicos para servirem as igrejas, e pagar por isso!

Com estas observações estou certo de pensar assim?


Ao invés de se preocuparem com tantas crianças abandonadas que poderiam ter um lar digno, ficam criticando e condenando uma forma de amor legítima entre duas pessoas. É tanta hipocrisia que ficam pregando tanto puritanismo sobre o sexo, mas que na verdade é o que mais eles se importam. Não são capazes de enxergar o amor acima até mesmo do sexo.


Por fim, o governo diz: É questão de saúde pública! Eu concordo em parte. Depois que são feitos os abortos em clínicas clandestinas essas mulheres acabam caindo na rede pública de saúde, que sabemos não ser a melhor do mundo, mas é considerada um dos melhores modelos. Os índices do Ministério da Saúde apontam quadros horríveis sobre o estado em que essas mulheres chegam ao SUS, muitas vezes não sobrevivendo. São tantas torturas, desde o processo que leva uma mulher a decidir sobre o assunto até o que elas passam nas mãos de supostos profissionais de saúde em lugares suspeitos, precários e ilegais.


E a solução? Quem dá mais? Permitir que essas mulheres façam abortos na rede pública de saúde irá resolver o problema? Se o SUS legalizar o procedimento de aborto mais mulheres irão abortar? Se o SUS não fizer o aborto e a mulher não tiver condições financeiras para pagar uma clínica clandestina ela vai ter seu filho em casa e depois jogar o recém nascido no lixo?


Será que, se os grupos religiosos e serviços públicos de saúde disponibilizassem um atendimento diferenciado a mulheres que pensam em abortar, oferecendo condição de saúde, apoio moral e espiritual, e até um possível encaminhamento para adoção caso a mãe queira realmente não ficar com o filho, eu tenho certeza que o número de abortos diminuiria no país.


O Brasil não precisa legalizar o aborto, ele precisa olhar para as mães e dar condições dignas a elas para lidar com a situação de uma gravidez indesejada. Uma gravidez não prevista não pode ser pretexto de um aborto. Vamos sim abortar esta ideia.

Comentários

Vanderlei disse…
Muito bom Wandrei. Concordo com quase tudo, penso apenas que a rejeição a enfretar certas questões como "abençoar a união de pessoas que não possam procriar", sejam elas do gênero ou da opção sexual que for, não esteja ligada apenas a proliferação do numero de fiéis. Estão envolvida nestas questões uma série de dogmas seculares que misturam instruções do Velho Testamento com relações de poder construidas dentro das igrejas. Nestes casos liberar o fiel para pensar e decidir e correr o risco de perdê-lo de vez. Ai a questão é reforçar o dogma e incutir o medo.

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